domingo, 21 de junho de 2009

DOIS BEIJOS

1.

Não creias

palavras mascaradas de azedumes

esquece as afeições dos maus momentos

sou um exaltado

por isso me fiz poeta

das noites vagas de luz

e de ti


acredita apenas que te amo

- pois que outro sentimento

podes de mim ambicionar

adorado pequeno perguntador

de olhos azuis encharcados em ternura –

(ou julgas que não vejo?)

acredita apenas que te amo

querido e maravilhoso ser

tão aparentemente frágil

e tão robusto de vontade


hei-de ver-te um dia próximo

na verdadeira dimensão do espírito

porque saberás crescer

para novos deslumbramentos

livre e feliz


meu esplêndido companheiro


2.

Tenho a certeza

que proximamente despertarás

para o mundo das opções grandiosas

serás poeta

passarás incólume

sobre as importantíssimas vulgaridades

dos fantoches concordantes

construirás degraus

duma imaginária e reconfortante esperança

ressurgirás ânimos de valentia

contra impérios ou sórdidos decretos

e serás digno de nossa mãe

a grande Poesia Social


para ti

portas abertas para outro dia

para ti

tua grandiosa companhia


o céu

o tempo

o mar

Sto. António Caparica, Setembro 1972


5 comentários:

  1. Adorava ter poemas assim escritos por um Pai! Beijocas xox

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  2. Que belo perdão que assim se pede (se preciso fosse, não é?) e que declaração de amor tão sem equívocos.
    A distância que sempre tive da tua vida, impede-me e bem, de lhe conhecer as minudências mesquinhas (vulgaridades) que, por certo existiram, e assim, assino por baixo no que respeita à sua premonição quanto ao teu carácter e forma de exerceres a tua arte.
    Quase que me atreveria a dizer que este poema se poderá ter tornado um guia, não? Bela forma de se educar.
    Alexandra Pereira

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  3. Obrigado Xana!
    Sei que estás a passar um momento difícil.
    Desejo-te o melhor para a tua vida.
    Beijos

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