sábado, 27 de junho de 2009

A DAMA

Era uma dama irresistível
soberba
plena de carnes magestosas
com olhos bordados sobre seda
no ventre aveludada
uma dama viciada dos pantagruélicos festins
coberta por prazeres de qualquer espécie
obedecida nos mínimos caprichos
habituada a adquirir todos os que entendesse
aptos para serem admitidos
em seus anónimos antros
uma dama imponente
altiva como o mastro dum navio fantasma
depravada e perfumadíssima
uma dama insaciável
esquisitíssima
temida e fecundada
pelos eleitos na afeição deplorável

completamente
se desnudava a obscura dama
surgindo de requintadas neblinas
em formas magnificentes
perante extasiadas impotências
e arremessando íntimas roupagens
aos focinhos sexuais dos que não se submetessem
a incríveis exigências

essa dama impiedosa
perdulária
formidável
sentia horror e asco ao séquito que a servia


seu poder
falível e intocável
seu nome

burguesia

Strasbourg, Julho 1967

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