terça-feira, 30 de junho de 2009

SEM EFEITO

Quando ressuscitavam versos das areias
gostavas de bordar inspirações marinhas
escolhias conchas sempre brancas
para enfeitares os cachos de palavras
e fazias autênticos penteados

prometi-te então um poema
para o dia de aniversário
tu sorriste e respondeste-me
com recantos admiráveis desse corpo
enquanto os teus olhos formosos e celestes
divagavam mares por cima dos meus ombros

faíscou então
aquele relâmpago traiçoeiro
que me deixou de boca aberta
a ver-te reviver noutros braços

por isso
dou o dito por não dito
sou vingativo
já não escrevo poema nenhum
fecho esta porta que dava para ti
serpente venenosa
peixe-aranha
grande cínica

mas também

doce
terna
absoluta
e exacta mulher

Lisboa, Fevereiro 1962

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