domingo, 28 de junho de 2009

A ALMA

Traz vida
ao húmus da terra que nos traga
suprema e derradeira
tão fêmea como a fome duma fraga
para cópulas de falos prometida
na empedrada forma primitiva

recita a pátria transmontana toda inteira
desfilando rios de mágoa
sempre distante e repetida

faz abrigos das lonjuras sem futuro
entre calvários dessa opressão antiga
posta em rostos crestados como o chão tão duro
duma promessa demente mas ciosa
pela razão jamais distribuída

medita contemplações do homem puro
que mata a sede raríssima e formosa
bebendo na paisagem suicida

jaz profeta sobre o casto povo
testemunha um afronta permitida
por isso leio enquanto sofro
pregado aos espinhos dessa flor asquerosa

vomita ternura fabulosa
mesmo assim o Louvo
desfeito em palavras que lhe sorvo
dentro da humilde ferida sumptuosa
a ele me entreguei e dou-vo

Sto. António Caparica, Dezembro 1973

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