terça-feira, 30 de junho de 2009

POR CONCLUIR

Porque escrevo?

Serei cobarde ou louco
para me segredar nestes caracteres
aquilo que não fui capaz de confessar
noutra voz?

Porque escrevo?

Pela vaidade
de um certo alheamento ao mundo das pessoas normais
que cumprem os dias
como um horário de trabalho forçado?

Porque escrevo?

Dar-me-á este contacto mecânico
da mão espreguiçada da palavra
alguma indemnização ou lenitivo
para amenizar a má vontade com que me tolero?

Porque escrevo?

Conseguirei resolver o enigma
invocando o estafado subterfúgio da "necessidade psicológica"
sobejamente verdadeiro e fácil
para iludir cepticismos literários?

Porque escrevo?

Será que me perdi
no labirinto imenso da criação onde vagabundeio
armado em caçador de ideias a fugirem-me sempre mais
não sem que as persiga
a pensar noutras realidades?

Exactamente

Viana do Castelo, Maio 1963

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