
costumávamos jantar na varanda
envidraçada com vidros e poeiras
o sol gabava as nódoas da toalha
a janela escancarava
vagas promessas dum tranquilo incógnito.
Junto a nós
o vetusto pessegueiro do quintal
inclinava arbóreas narinas
como que a cheirar o pão
a carne
as conversas.
Na parede
da gaiola pendurada
o todo amarelo canário prisioneiro
queixava-se em intermináveis ameaças esquerdistas
enquanto debicava os cereais racionados.
O cão Top enrolava-se a um canto
e o felino Lagarto
coçava pulgas e arrelias congénitas
os vasos
jaziam
apáticos
em atitudes vegetais
A begónia caía docemente pelo cólio
o polipódio fazia festas à avenca
meus pais mastigavam confiança
e para mim
o jantar era uma alegria!
Lisboa, Setembro 1972
Sem comentários:
Enviar um comentário