
dos saudosismos devotos
dos seculares terramotos
dos santos aburguesados
Saudade
dos anos fora de portas
dos ripanços pelas hortas
dos hábitos ultrapassados
Pintura
dos frescos becos de Alfama
dos barcos que o Tejo chama
dos fados empedernidos
Ternura
dos vasos nos varandins
das crianças nos jardins
das ideias nos ruídos
Miséria
dos anos da concordata
dos tantos bairros de lata
dos prostíbulos nas veias
Matéria
das políticas em prol
das gírias do futebol
das revoluções alheias
Cartaz
das praias em frontispício
das noites iguais ao vício
dos hospitais purgatórios
Tenaz
das pielas sociais
das vielas criminais
dos proscritos dormitórios
Império
dos cemitérios viventes
das naus aos descobrimentos
dos feitos e das histótrias
Mistério
dos que navegam nas vidas
das leis e dos suicidas
das traições e das glórias
Passado
das uniões espontâneas
das lutas subterrâneas
das frentes clandestinas
Mercado
das bandeiras em leilões
dos votos nas eleições
das ilusões intestinas
Coroa
dos espinhos que usufruo
dos dentes do aqueduto
dos rosários e da grei
Lisboa
das paixões antes rancor
dos ódios depois Amor
e dos filhos que gerei
Lisboa, 18 Janeiro 1980
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