terça-feira, 30 de junho de 2009

LISBOA

Cidade
dos saudosismos devotos
dos seculares terramotos
dos santos aburguesados

Saudade
dos anos fora de portas
dos ripanços pelas hortas
dos hábitos ultrapassados

Pintura
dos frescos becos de Alfama
dos barcos que o Tejo chama
dos fados empedernidos

Ternura
dos vasos nos varandins
das crianças nos jardins
das ideias nos ruídos

Miséria
dos anos da concordata
dos tantos bairros de lata
dos prostíbulos nas veias

Matéria
das políticas em prol
das gírias do futebol
das revoluções alheias

Cartaz
das praias em frontispício
das noites iguais ao vício
dos hospitais purgatórios

Tenaz
das pielas sociais
das vielas criminais
dos proscritos dormitórios

Império
dos cemitérios viventes
das naus aos descobrimentos
dos feitos e das histótrias

Mistério
dos que navegam nas vidas
das leis e dos suicidas
das traições e das glórias

Passado
das uniões espontâneas
das lutas subterrâneas
das frentes clandestinas

Mercado
das bandeiras em leilões
dos votos nas eleições
das ilusões intestinas

Coroa
dos espinhos que usufruo
dos dentes do aqueduto
dos rosários e da grei

Lisboa
das paixões antes rancor
dos ódios depois Amor
e dos filhos que gerei

Lisboa, 18 Janeiro 1980


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