terça-feira, 30 de junho de 2009

TU

Tu
vernáculo Vladimir
obreiro da Revolução admirável
que experimentou o mundo
e colheu em sobressalto alguns déspotas
com outros tantos deuses humanamente egoístas
tu
encurralaste o povo para cumprir um sagrado dever
até então jamais concluído
tu
imenso Ilyitch
profeta e mestre dessa transformação decisiva
conseguiste estrelas a cintilar
sobre os destinos da Mãe Pátria oprimida
mas por tuas mãos tão libertada
que hoje até se atreve a demais astros
tu
último Ulianov
voz activa a soletrar lucidez e desespero
desataste braços
multiplicaste orgulhos obreiros
carregaste-os de palavras universais
e conseguiste essa união excepcional

(num destes dias a que chamam feriados
talvez para que as pessoas se sintam
ainda mais abandonadas
fiquei tempos parado junto à montra
duma loja de vender bichos
enquanto estranhos silêncios de ócios
alagavam a rua deserta
interdita ao insólito burburinho circulante
dos trânsitos desordenados
e um sol barbaramente implacável
batia de chapa contra o vidro da montra
daquele cubículo de impingir bichos
onde as aves emudeciam sufocantes tristezas
e o pungente olhar dum cão
me pedia nem sei o quê...)

não contenho uma voz
como a de Mayakovsky
mas garanto que só alguém como foste
tu
Léo Lenine
faria Justiça aos pobres animais encarcerados
pelas lamentáveis minorias
das cruéis multidões escravizadas

Lisboa, Setembro 1965

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