sábado, 27 de junho de 2009

LISBOA

Minha Musa
oferta em estranha e difusa claridade
eu te sei, a ti me somo
o azul do teu regaço me convida
para a rígida ventura dum abraço
cingido ao Amor de inventar vida

Minha querida
eu te tento
e rebento em Liberdade
tolhido pelas trevas deste Outono
mas alheio à noite que me invade
com os olhos te como
límpida e lusa verdade

te enleio
te fufo, te tomo
te passeio
fêmea cidade Medusa

Minha serpente
vasta e capital tortura
te pertenço, amante e mãe natal
em palavras te declamo
te amo e me dispo à tua frente
numa total amargura

Minha praga
te olho e me recompenso
constante imprecisa formosura

Minha chaga adjacente
de ti sou e te dispenso
minha ferida carnal da ditadura
minha doce ilusão dum continente

Lisboa, Novembro 1965

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