domingo, 21 de junho de 2009

SOMBRAS

Olhos mirrados

de tanto prantear tormentos vivos

movia-se em perpétuos lamentos

por causa de um filho

que um deus ou um destino

resolveu matar aos vinte anos


menina ainda

criança não poude

bem cedo se vestiu de coragem

e caiu-lhe em cima a alvorada

dos invernos abandonados


esquecera a tabuada

mas sabia a música dos velhos

que nos cantarolam bons conselhos

para nada


enquanto lia o jornal

apontava os outros com uma intenção tenaz

e pejava-os de clássicos exemplos

como se fossem pirâmides ou templos:

- aquilo é que é um rapaz...


do que era capaz

a sábia ignorância da mãe de minha mãe

do que foi capaz...


de tanto me querer bem

tanto conseguia ser mordaz


que a morte lhe devolvesse a paz

Lisboa, Novembro 1969

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