Tem graça... quanto possui do mais primário instinto
este tecido miserável
de que somos feitos
de que somos frutos...
assim
sem emendas nem ressalvas
todo o instante presente
revela-se na contradição métrica
do momento seguinte...
... trouxeste o corpo trigueiro
e o enigma palpitante
na noite dum calor convidativo
teus seios transparentes
roçavam carícias de nuvens estivais
e cantavas
sentada no terraço alentejano
aquela canção tão singular
... "uma ilha azul
azul
no meio do mar
do mar"...
... pobre escrava resignada aos ditames da carne
- ouves aquelas vozes assentadas num riso de fatalismo?
finge
sê ao menos feliz por eles
que eu prefiro renunciar
aos prazeres provincianos
de serões ultrapassados
Ferreira Alentejo, Junho 1956
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